segunda-feira, 27 de maio de 2013

Leia a conversa dos pilotos do Legacy no momento da colisão com a gol 1907.

Leia parte da a transcrição do diálogo que os pilotos Joseph Lepore e Jan Paladino travaram no momento em que, no comando de um Legacy, bateram em um Boeing da Gol, em setembro passado. O segundo trecho ocorreu depois que o Legacy realizou um pouso de emergência, na serra do Cachimbo.

A conversa será divulgada com exclusividade em reportagem da colunista da Folha de S.Paulo Eliane Cantanhêde, na edição deste domingo (exclusivo para assinantes).

Não há definição de nomes. Eles são chamados de Hot 1 e Hot 2 (os pilotos). Há ainda Hot 3, Hot 4 e CAM.

As conversas foram feitas em inglês, degravadas pelo NTSB (National Transportation Safety Board), de Washington, e constam das investigações. Os horários citados são GMT (Greenwich Mean Time), usados pela aviação internacional.

Momento da colisão

19:56:54.0
(Som de impacto). Uh. Oh.
19:56:56.1
CAM - Piloto automático.
Hot 1 - Que diabos foi isso?
Hot 2 - Tudo bem, somente pilote o avião, cara.
CAM - Som metálico três vezes.
Hot 2 - Somente pilote o avião.
19:57:34.7
CAM - Nós perdemos o winglet.
Hot 1 - Perdemos? De onde veio a porra?
Hot 2 - Tudo bem, nós estamos descendo. Declarando emergência. Senta.

Após o pouso

Hot 1 - Eu não sei que inferno. Se nós batemos num avião, há outro avião com problemas lá em cima.
Hot 1 - É com isso que eu estava preocupado. Eu não queria. Nós estávamos a 37 mil pés e eu estava no processo de tentar comunicação. Lá não tem porra nenhuma, nada.
Hot 2 - E daí se nós batemos em alguém? Eu quero dizer, nós estávamos na altitude apropriada.

Queda de Boeing da Gol completa seis meses sem respostas. Há exatamente seis meses, um jato Legacy que realizava seu primeiro vôo bateu em um Boeing 737/800 da Gol em pleno vôo. O jato conseguiu pousar na base da Aeronáutica na serra do Cachimbo (PA), e os sete ocupantes não sofreram ferimentos. Os 154 ocupantes do Boeing --que fazia o vôo 1907-- caíram na selva, no lado mato-grossense da divisa, e morreram, transformando a colisão no maior acidente aéreo do país.


O vôo saiu de Manaus em 29 de setembro, com destino ao Rio e escala em Brasília.

Nesta quinta-feira, na catedral de Brasília, parentes das vítimas realizam uma missa em homenagem aos mortos, organizada pela associação formada pelos parentes depois do acidentes. "Nossos parentes, é claro, não vão voltar. Queremos só que os culpados sejam punidos", diz Jorge André Cavalcante, que preside a associação.

A principal queixa dos parentes das vítimas é em relação à falta de informações das autoridades que investigam o caso. As investigações da Polícia Federal começaram dias depois da queda, antes mesmo de a Justiça definir se o inquérito caberia à PF ou à Polícia Civil.

Em janeiro, o STJ (Superior Tribunal de Justiça), decidiu pelo sigilo das investigações, mas segundo Cavalcante, o Ministério Público já deu um parecer a favor da divulgação das informações. "Eles não nos passam nada, mas deram informações para a defesa dos americanos", afirma Cavalcante.

Indiciamento

Os americanos são Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, piloto e co-piloto do Legacy --da empresa de táxi aéreo americana ExcelAire--, indiciados por expor a aeronave que pilotavam a perigo. As investigações da Aeronáutica indicaram que o transponder, o TCAS (sistema anti-colisão) e o rádio do Legacy estavam em perfeito estado, mas inoperantes --o motivo é investigado. O transponder aciona o TCAS, que avisa os pilotos, visual e sonoramente, em caso de aproximação perigosa de qualquer objeto.

Antes do indiciamento, eles tiveram os passaportes retidos e não puderam deixar o país por cerca de dois meses. O repórter do jornal americano "The New York Times", Joe Sharkey, que também estava no Legacy, disse que estranhou a "detenção dos americanos" e elogiou os pilotos.

"Tudo o que pude ver e tudo o que eu sabia era que parte da asa não existia mais. Surpreendentemente, ninguém entrou em pânico. Os pilotos começaram calmamente a procurar o aeroporto mais próximo em seus mapas e controles", disse dias depois da colisão.

Ao contrário do jornalista, que elogiou a atuação dos pilotos, as investigações da PF apontaram para falhas tanto dos pilotos quanto dos controladores de tráfego aéreo. Na época, o delegado Renato Sayão disse que o acidente ocorreu devido a vários "vetores causais". Já o Ministério Público Militar isentou os controladores de culpa pelo acidente.

Crise aérea

Após o acidente, uma série de fatores levou a uma crise aérea no país. No final do ano passado, o setor enfrentou seqüências de atrasos e cancelamentos de vôos.

Inicialmente, os problemas foram causados pela operação-padrão dos controladores de tráfego aéreo, que restabeleceram à força parâmetros internacionais de segurança. O Cindacta-1 sofreu com a falta de controladores, devido ao afastamento de alguns para as investigações sobre a queda do Boeing da Gol, ocorrido em setembro.

Depois, falhas em equipamentos também contribuíram para aumentar a espera nos aeroportos.

Neste mês, o mau tempo em São Paulo --que interrompeu as operações em Congonhas (zona sul)-- e até um cachorro na pista do aeroporto, no dia seguinte, desencadearam um novo apagão aéreo, que afetou outros aeroportos no país. O dia 19 foi o dia mais difícil para os passageiros. Na ocasião, 29% dos vôos atrasaram, ao longo do dia.

A partir do dia 25, o nevoeiro interrompeu as operações no aeroporto internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos (região metropolitana), por três dias seguidos. O problema foi causado pelo não-funcionamento de um equipamento que auxilia as operações em ocasiões de baixa visibilidade (ILS). Atingido por um raio em 25 de fevereiro, o equipamento foi consertado, mas demorou para ser liberado.

O ministro da Defesa, Waldir Pires, determinou à Infraero a abertura de uma sindicância para apurar a demora no conserto e na liberação do equipamento. Pires ameaça punir com a demissão os responsáveis pelos atrasos.

Manaus

No mesmo dia em que o acidente com o avião da Gol completa seis meses, passageiros enfrentam problemas no aeroporto internacional Eduardo Gomes, em Manaus (AM). A Infraero (estatal que administra os aeroportos) afirma que as operações foram prejudicadas por um procedimento adotado pelos controladores de tráfego aéreo do Cindacta-4 (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo) --sem informar o motivo do procedimento. 

A Aeronáutica, por meio do setor de Comunicação Social, negou que tenha ocorrido a chamada "greve branca" ou operação-padrão por parte dos controladores. Afirmou que, devido ao grande volume de tráfego aéreo na região, os profissionais foram obrigados a adotar o chamado controle de fluxo --com maior espaçamento entre os aviões. Ao menos seis vôos ficaram sem autorização para decolar, o que causou atrasos de até seis horas.

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